sábado, 4 de outubro de 2008

Exposição Retalhos & Entalhes da professora Valécia Ribeiro





A exposição dos trabalhos Retalhos & Entalhes, da professora e Artista Plástica Valécia Ribeiro aconteceu nessa sexta-feira, 3 de outubro de 2008 na Galeria Solar Ferrão.


A galeria Solar Ferrão foi recentemente inaugurada depois de ter passado por um processo de restauração e possui além de outras duas exposições, uma biblioteca, um espaço para estudo e pesquisa além de um belo jardim.


Os trabalhos Retalhos & Entalhes foi selecionado pela Funceb no projeto Portas Abertas para as Artes Visuais e ficarão na Galeria até 2 de novembro. São dois trabalhos que se inter-relacionam, tanto pelas imagens utilizadas como pelo conceito que os definem.

Retalhos – tramas que tecem o ser


"No olhar fragmentado da fotografia,
os recortes se apresentam como uma totalidade,
texturas do meio e das pessoas se mostram como imagens abstratas
que se combinam e se confundem entre marcas e sinais do tempo.
A vivência do espaço cotidiano incorporada em linhas, formas e cores
que tomam a realidade como dado sensível
revelando a expressão do ser: o 'real' em recortes abstratos".
Esse trabalho, recortes (retalhos) de fotos de pessoas e lugares possui 15 metros de comprimento.



No trabalho intitulado Entalhes - traços que ocultam o ser, os retratos de pessoas comuns, combinadas com as fotos de troncos de árvores, portas, pedras, paredes, chãos são um desafio para os olhos e para a interpretação. Cada retrato tem uma textura que se encaixa perfeitamente com o retrato e que nos faz perceber o trabalho minucioso feito em cima das duas imagens, no desafio de casá-las. Esse deve ter sido o seu maior desafio, achar a textura certa para o retrato certo. Nesse trabalho Valécia conceitua:





"Fotografias que ora se revelam puras em texturas e cores,
e ora se mostram híbridas, nos rostos
esculpidos em fusões entre o sujeito e o meio.
Retratos que falam dos vínculos que emergem da trama
que cada um tece com o mundo ao seu redor,
como portas e janelas do interior que se fecham e se abrem para o exterior".

Em ambos os trabalhos a figura humana é confundida e condensada com o meio. Em Retalhos natureza e homem são fragmentados compondo o ser. Em Entalhes o homem se fragmenta no meio, se mistura a texturas, não sendo possível saber quem está em primeiro plano: homem e ambiente se confundem.

Valécia Ribeiro é Artista Plástica e tem ministrado aulas de Mixmídia, na Escola de Belas Artes da UFBA, no curso de extensão, e oficina de Criatividade e Explorações Contemporâneas com Jovens artistas, no Palacete das Artes. O curso do Palacete das Artes rendeu bons frutos e até uma exposição dos trabalhos dos alunos. Os jovens na arte se encataram com o mundo de possibilidades para o fazer artístico apresentado pela professora. Ela também é jovem, e atendendo ao pedido de deixar um recado para jovens na arte, ela diz

"Lembre-se que não há limites entre a arte e a vida, deixe que a arte contamine sua vida e a vida contamine sua arte!"

Valécia Ribeiro


Fotos da Exposição:




















Raquel Maciel



Recital e Exposição: Corpo e Tempo

“Corpo e Tempo”, “Tempo e corpo”, o “Corpo”, o “Tempo”: são palavras muito antigas escolhidas como tema para exposição dos trabalhos realizados na Oficina do Museu Rodin da Bahia, sob a égide – sem exagero algum – da Educadora Valécia Ribeiro. Tanto quanto antigas essas palavras são sobretudo originais na medida que são atualizadas pela própria existência do Homem-no-Mundo e do Mundo-no-Homem. 

Com efeito, talvez sejam alí mesmo, anteriores aos mitos de Kronós e Criação – Teogonia – uma vez que tudo ocorre e decorre independente dessa necessidade do Homem de dar Nomes às coisas e conceituar bem como fazer Filosofias... Ora, dizer Tempo é atualizar na historicidade e História do Homem-no-Mundo, a essência de sua vivencia que no Tempo mesmo o Homem inventa em sua espacialidade e caminho.

Sendo o corpo a primeira experiência humana, em qual momento desse mesmo experienciar-a-si-mesmo, consciente de sua existência, o Homem acena para o sentido profundo de Tempo? “Por conseguinte, o que é o Tempo? Se ninguém me pergunta, eu sei; porém, se quero explica-lo a quem me pergunta, então não sei...” Santo Agostinho, Confissões, XI, 14.

Alias, não havendo Tempo senão pelo envelhecer e perecer das coisas e não como realidade palpável em si mesmo, onde o Homem inquieto de sua espacialidade Limitada e Limitante alcança Tempo e Fluir encarnado no Mundo?  Para além da subjetividade de cada Tempo em cada individuo e para todo Eterno que o Homem delimita para não enlouquecer que o Fazer artístico, pelo modo do seu dialogar com o futuro pelo presente, cristaliza e territorializa, pela sua própria urgência do Novo e porque nascer e morrer, não deve finalizar sua existência – do artista, obviamente – sedenta do não visto. O Tempo da arte deve ser o não-haver-tempo pelo corte colorido ou não que o Fazer do artista produz. E há a Beleza ( ομορφιά ), que não sabemos o que é uma vez que: “... A beleza é uma coisa terrível e espantosa. Terrível porque indefinível e não se pode defini-la porque Deus só criou enigmas...” Dostoievski (1821-1881), Irmão Karamazovi.

Houve um Tempo de aprender sob a Luz de Valécia assim também como houve um Tempo para ela aprender pelo Mundo e nessa tessitura de saberes, na esteira do amor e da Curiosidade que fora re-afirmada Luz em oposição à escuridão,  e agora compreendido, com a consciência de que tudo é Processo: encerra.
Gilson Figueiredo